Ziquinha de Ti-Vi, Um Século e Uma Autobiografia

Por Rita Paixão Defensor Menezes

e Sócrates Menezes

Ilustração: Victor Menezes

José Pereira de Menezes, como era menos conhecido, foi apenas mais um “José” e sua história pode ser considerada apenas mais uma na fantástica trajetória de muitos macaubenses ao longo do século XX. Nascido em 26 de agosto de 1920, completaria hoje cem anos. Ziquinha de Ti-Vi, assim melhor apresentado, ainda é considerado, por muitos, a figura mais brincalhona, zombeteira e pirracenta desse município. Primeiro chefe do Detran de Macaúbas, também escrivão da delegacia, vascaíno, acumulou uma vida carregada de histórias hilárias. Dos passos lentos e incessantes, além das mãos cruzadas para traz, nas costas, sempre buscava sua próxima “vítima”, para qualquer brincadeira inventada em último instante, no pequeno e demorado trajeto que perfazia no seu cotidiano, entre os bares de Zé Canela, Seu Toinzinho, Zé Leite e Zito Amaral.

Era uma Macaúbas um pouco diferente dos dias atuais; e não apenas pela arquitetura urbana. Um povo tipicamente solidário, dada as condições difíceis de reprodução da vida, encontrava em Ziquinha de Ti-Vi um de seus representantes. Não era difícil vê-lo em uma das janelas de sua casa, na “Rua Direita”, a caçoar com qualquer transeunte, pobre ou rico; tal como também não era difícil compartilhar com qualquer outro alguém, sob qualquer nível de necessidade, o acolhimento de sua casa e o alimento do dia. Nutria, assim, um lar vívido, alegre, também compartilhado por muitos outros iguais, conhecidos ou não.    

Figura quase-folclórica do cotidiano vivido de uma Macaúbas já inexistente, o “Carcará”, como os mais próximos chamavam, colecionava uma cidade inteira de amizade. Deixou, no ano de 2001, aos 81 anos, além dos doze filhos e algumas dezenas de netos, uma autobiografia pouco conhecida que é aqui, enfim, divulgada. Nesta que pode ser considerada como a parte histórica-cultural deste meio de publicação, a autobiografia de José Pereira de Menezes nos mostra, além de sua história individual, de sua infância à primeira juventude, traços históricos de Macaúbas entre as décadas de 1920 e 1930. Por meio dela podemos rememorar as formas de trabalho e de sobrevivência, o contexto da educação na cidade, o sertão baiano no tempo “revoltoso” de Carlos Prestes, a histórica “desarmonia dos chefes” Francisco Borges e o “Coletor Estadual José de Matos”, a crise de 1932 e a construção do Açude de Macaúbas pelo D.N.O.C.S.

   Mas, a Autobiografia de Ziquinha de Ti-Vi nos permite acessar, principalmente, uma realidade de tantos “Josés” macaubenses, trabalhadores migrantes, que encontraram na necessidade pela sobrevivência a única possibilidade de realização de sua história. Das incertezas pelo interior do estado de São Paulo em busca de trabalho, como andarilho desempregado, pelas amizades que fez, pelos amores não vividos, pelas desavenças que encontrou, pelas injustiças com que teve que se deparar, sua história é uma “banalidade” onde o leitor se reconhecerá, ou em si mesmo, ou em alguma memória familiar. Se ao texto publicado não foi dedicado o cuidado formal da escrita, com algumas passagens confusas, sobra nele o romantismo, a nostalgia e tantas outras nuances que qualificam seu autor como merecedor do futuro que teve, o que torna o escrito perfeitamente compreensível para todos macaubenses.


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Comentários

  1. Emocionante a introdução da filha caçula e do neto Doutor. Não consegui abrir a autobiografia. Que Deus dê o eterno descanso a alma de Ziquinha de Ti-Vi

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  2. Alan, obrigada pelo incentivo. Você foi o responsável por essa homenagem! Gratidão!

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  3. Parabéns a Sócrates e Ritinha, pela bela e merecida homenagem.

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  4. Rita e Sócrates, parabéns! Tio era brincalhão mesmo!

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  5. Parabéns a vocês pela iniciativa dessa bela.honenagem. tinha muito carinho por tio.Ziquinha.

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  6. Tio Ziquinha, quanta saudade. Parabéns à filha caçula e ao neto "varão", pela brilhante introdução.

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  7. Meu tio querido irmão de minha saudosa mãe no céu onde vcs estão os anjos estão felizes e nos com muitas saudades

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  8. Ziquinha Ti Vi:
    Um amigo incomparável, um crítico sem parelha, áurea boa!
    DEUS te proteja amigo.
    Parabéns vc a tds da família!

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