O Fechamento do Colégio José Batista e a Falência da Representação Política de Macaúbas.
Por Sócrates Menezes
Foi minimamente inusitado, para não dizer estranho, quando em junho de 2018 noticiou-se que os políticos de oposição de Macaúbas (notadamente o MDB) haviam se juntado aos políticos da situação para apoiar o candidato do PT, o Sr. Rui Costa, em sua reeleições para o Governo do Estado da Bahia. Não chamou muita atenção o referido fato, porque manobras de tal natureza estão cristalizadas no senso de normalidade e aceitabilidade, por qualquer justificativa que seja, na sofrida consciência política do eleitorado macaubense. Mas a história, sendo ela uma espiral, insiste em nos constranger, se pondo agora contra nós mesmos. E o que fazer, quando esse governo de consenso, eleito com 77% dos votos em todo Estado, resolve agir contra os interesses do seu povo? A quem procurar, se todos nossos representantes estão do mesmo lado e contra nós?
O fechamento do Colégio José
Batista, uma notável instituições de ensino, principalmente em relação a aprovações
de seus estudantes nos vestibulares de importantes universidades públicas, está
no conjunto das medidas autoritárias do Sr. Governador Rui Costa (PT). Além do
fechamento de escolas em todo Estado registra-se, como medida do atual governo,
o aumento de imposto (previdenciário) dos servidores públicos, diminuição das
gratificações de professores, além do uso deliberado da força policial contra
as mobilizações de resistência. Evidentemente, culpa-se os trabalhadores
públicos pela crise financeira-administrativa e age contra a educação como
solução viável à ela. Rui Costa, com tais medidas desastrosas e emergenciais,
apresenta em 2019 um Estado à beira da falência, inclusive como se fosse
herdado de uma administração incompetente, ao mesmo tempo em que tenta fazer esquecer
o fato de que era ele mesmo quem o governava.
Então, o que fazer, quando há
alguns meses atrás, os então candidatos a governador e deputados, que agiram
antidemocraticamente contra os interesses do povo, estavam sendo aplaudidos nas
ruas e nas praças públicas de Macaúbas? Representantes do legislativo, do
executivo municipal, políticos derrotados da situação e oposição, todos eles
apresentando essas figuras quadrienais. Do lado da situação, a insistência
nessa falência ideológica e moral que passou (há muito tempo, que se diga) a
representar o PT; do lado da oposição (que até a pouco tempo era lacaio de sujeitos
da estigma de Geddel Vieira Lima) observou-se o fatídico, deprimente e patético
apoio à figuras como Arthur Maia. Além disso observa-se também o vergonhoso o
apoio da oposição de Macaúbas ao projeto fascista do Clã Bolsonaro, por sua vez
envolvido, não apenas em corrupção, mas com milícias assassinas do Rio de
Janeiro, como agora se evidencia. O fato é que, todos nossos representantes
estiveram do mesmo lado, em apoio a Rui Costa. Que moral restou a eles?
Por isso não haveria de dar certo
qualquer tentativa de mediação entre esses mesmos políticos locais e o poder
centralizado em Salvador na defesa da pauta de pais, professores e estudantes
contra o fechamento do Colégio José Batista. Mais triste ainda é perceber que,
ao agirem como porta-vozes do governador impositivo, os políticos de Macaúbas e
seus correligionários promoveram a divisão da opinião pública local e a
fragmentação da luta pelo José Batista, inclusive diante da flagrante
ingenuidade amplamente proliferada na crença de que “vai ser bom para
Macaúbas”. Ouviu-se, inclusive, um certo áudio, de um certo deputado aliado do
governo Rui Costa, dizendo que Macaúbas vai ganhar um “presente”... (de grego, provavelmente!).
Mas, por um lado, como insistem
os porta-vozes do governador autoritário, se é preciso se adequar a realidade
financeira do Estado, por outro lado, é preciso também adequar nossa capacidade
de leitura política da realidade aos fatos. Será mesmo que, o mesmo governo que
fecha escolas para economizar dinheiro, vai gastar dinheiro para abrir algum “Centro
Educacional de Blá, Blá, Blá...”? Qual fato concreto tínhamos? Algum projeto foi
apresentado? Algum acordo assinado? Nada!!! Apenas um triste documento entregue
aos estudantes do Colégio José Batista informando seu fechamento e orientando-os
a procurar outra unidade de ensino. Em suma, entregamos o José Batista, que
agora divulga o sucesso de seus (ex)estudantes na redação do ENEM, à lábia de
políticos e dos defensores locais do Governo do Estado.
Um triste e melancólico fim,
certamente! Tudo isso no exato contexto em que as discursões sobre o respeito à
democracia e a opinião popular estão mais latentes, sobretudo frente o
desastroso quadro político nacional, com um presidente absurdamente patético,
que se comprova neste primeiro mês de janeiro. Na nossa pequena Macaúbas, num
simplório, mas importante e representativo Colégio, o mero direito de pensar
democrática e coletivamente o destino de uma escola, por mais lógica e
necessário que seja sua adequação à “realidade financeira”, é radicalmente
suprimido. Evidentemente, antecipa-se aqui o que ocorrerá em todos os lugares,
inclusive em outros colégios estaduais do município. E a única saída que teríamos,
enquanto povo, seria resistir e lutar, como corajosamente fizeram os pais, os estudantes
e os militantes pelo “JB”.
Por isso a importância de
observarmos o quanto perdemos ao não apoiar massivamente os estudantes e
professores que acabaram isolados politicamente e desamparados
representativamente na luta pelo José Batista; estes mesmos pais que agora
engrossam as vergonhosas fileiras por uma vaga nas unidades escolares que ainda
restam em Macaúbas. Nesse dramático acúmulo de derrotas que, enquanto
sociedade, sofremos contra nós mesmos, o que aprender? A noção mais elementar
sobre a política: longe de ser ela a
mera troca de ideia e o voto quadrienal em representantes locais impotentes, a
política é a mais franca e exclusiva luta de um povo contra o poder instituído pelos
representantes de sua elite. Uma luta necessária porque diz respeito à nossa
existência, seja como pais, seja como estudantes, seja como professores, seja
como macaubenses. E o que não percebemos é que tínhamos nessa luta a mais pura
e franca representação, ao invés de acreditar naqueles que elegemos e acabaram
manipulando e agindo contra o interesse popular.
Neste exato momento, o fracasso na
luta pelo “JB” representa o povo de Macaúbas: derrotado, desorientado,
desrepresentado, sofrido e isolado, mas perseverante, resistente e lutador.
Precisa-se agora que esse mesmo povo se reconheça como tal, no sentido de mudar
sua história, por meio da reflexão crítica e da ação política popular orientada
para que, lá adiante, faça merecer o que Colégio José Batista representa, agora
por meio de seu legado.
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