QUAL MACAÚBAS QUEREMOS?

SOBRE CHUVAS, DESMATAMENTOS E LOTEAMENTOS...
Por Tarcísio Sant'ana



No dia 26 de novembro de 2019, uma forte chuva caiu em Salvador – Bahia, causando inundações, enxurradas e deslizamentos por toda a cidade (primeiras duas imagens que ilustram este texto), com famílias perdendo seus pertences, suas casas, seus carros, etc. Na redes sociais a reflexão sobre o péssimo planejamento da cidade para “enfrentar a natureza” era unanimidade, questionando o modo de governo que entende no progresso a derrubada das arvores, e a cobertura dos rios e da terra com cimento.
No sertão macaubense tem sido assim também: primeiro derrubam as arvores e transformam os caminhos que a natureza tinha em lotes, depois cobrem todo o solo com concreto e asfalto, e anunciam o desenvolvimento da cidade. “Loteamento Fulano de Tal: venha viver bem, Com água, luz e esgoto!”. Quando a chuva vem, depois de muita oração e pedidos ao nosso senhor, o manto que Deus tinha feito pra recebe-la já não está mais lá. A água não tem mais onde infiltrar, e o lençol subterrâneo que antes a recebia agora está bloqueado pelo progresso e riqueza de alguns homens da cidade. Ai a água se revolta com toda a razão, arrasta tudo que vê pela frente, alaga, inunda, destrói... Por que se água é alegria e vida, longe da terra sabe também ser tristeza e morte!
Quando falamos sobre saneamento básico nas escolas da cidade sempre questionamos: O que Macaúbas faz com a água da chuva? Por que lidar com a Água da chuva (drenagem e coleta) é um dos cinco pontos que formam o Saneamento Básico. Percebam a contradição. Enquanto você, macaubense, está dentro de casa sofrendo com racionamento de água e rezando para que Deus mande a chuva, quando chover esta mesma água da sua oração pode destruir a sua rua, levando com a enxurrada a rede de distribuição de água do SAAE, e lá em frente vai se misturar com o esgoto das baixadas da cidade.
Isso tudo acontece por que não somos uma cidade organizada e com saneamento básico, que se preocupa em estar preparada também para coletar e drenar adequadamente as águas pluviais. E quando falamos em drenagem de água da chuva não é apenas construir canais para que a água possa escorrer, algo que praticamente não temos em nossa cidade. Drenagem da água da chuva é, acima de tudo, respeitar a natureza que já nos deu um manto formado por arvores e solos, prontos para receber as chuvas e encaminhar a água para nossos rios. Alguém ainda se lembra que no meio de Macaúbas passava o Rio Coité? E que quem vinha da zona rural para a cidade era recebido com água no (por isso chamado) Tanque do Lava-pés? Outro exemplo de como lidamos com nossa cidades estão nas outras imagens que ilustram este texto, fotos tiradas por mim de arvores que já não existem mais, na avenida de entrada da cidade.
O caminho que Macaúbas faz hoje é desmatar as serras e matas ao seu redor para transformar em loteamentos aos montes. Para onde olhamos em nossa cidade vemos novos loteamentos surgindo. Nos encaminhamos para ter em Macaúbas o que vemos ocorrer hoje em Salvador, deslizamentos de terra que destroem casas e famílias, e falta de água. A proliferação dos loteamentos com desmatamento das matas do município são legalizados pelo executivo e pelo legislativo como sinônimo de progresso, o mesmo progresso representado pela manta asfáltica nas ruas sem drenagem para a chuva, e pelas novas praças que derrubam arvores e cobrem a terra com concreto.
A pergunta que devemos fazer é: Qual o projeto de cidade queremos? Uma cidade como Salvador? Com derrubada de arvores, moradores em risco pela chuva, e sem água para todos? Ou uma cidade com Saneamento Básico? Isto é, preservando a natureza, com esgotamento sanitário (1), drenagem e coleta corretas da água da chuva (2), lixo reciclado e devidamente coletado (3), sem epidemia de moscas e mosquitos (4) e com água potável para todos (5)?
Feita a pergunta e escolhida a resposta, é o momento de cobrar dos nossos representantes políticos uma mudança de postura e atitude, uma cidade diferente, com preservação da natureza e saneamento básico para todos. 

Macaúbas e o desmatamento representado em duas imagens: 

                                                                


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