Cadê a estrela que estava aqui? O gato roeu... Ou Uma Ficção Coletiva?
‘‘Posso sair daqui para me organizar, posso sair daqui para
desorganizar. Da lama ao caos, do caos a lama, um homem roubado nunca se engana...’’.
Notável frase comungada e promulgada por uma réstia de
artistas, e demais intelectuais de setores diversos num tempo e num espaço
geográfico efervescente de ideias e vontade transformadora de algo vívido,
original, mutável, mas recluso em seus pequenos nichos, esquecidos por um
sistema organizado, interesseiro e manipulado para ser mono e não estéreo, para
não dizer quase particular e não plural.
Lembrando da cultura popular desse quintal, que ressurgiu
como um jardim na estação das flores, ilustrado com as mais variadas flores e
cores, por meio de manifestações de natureza artística populares e eruditas, de
fato, e pensando que este evento poderia florescer aqui, neste quintal.
Porém, nosso jardim de novidades cíclicas insiste em florescer
sempre na mesma estação e sucessivamente com as mesmas flores monocromáticas.
Para não dizer que não falei só das flores, vamos focar no que de fato é
visível, em nosso quintal, no que diz respeito às políticas culturais que há
muito vem sendo podadas e subjugadas a um mecenato monocrático. Assim, em tempo
de ‘live’, não é fácil ver, em nosso
jardim, flores coloridas nascerem solitárias ou em grupos. Porém, elas não se
importam, com seu mimetismo, radicalismo e ‘‘insignificância’’ nesta cena, pois,
neste quintal de finitos astros, há muita estrela para pouca constelação.
No que toca à Cultura neste quintal, poderia parar por aqui,
mas não poderia me esquecer do jardineiro, as flores, o dono do jardim, as
flores de plástico, dos jardineiros sintéticos e de tudo mais nesta ficção.
Para isso foi criado desde 2016, neste quintal, O “Conselho Muniquintal de Políticas do Florescer”,
através da Lei nº 628 de 05 de abril de 2016, que prevê:
Art.
1º - Fiscalizar e gerir
democraticamente o processo de nascimento, crescimento florescer das flores.
Parágrafo
único - Fazer de forma
institucional, as relações entre o provedor de insumos de jardinagem e as
flores, de forma perceptiva das ações.
Art. 2º - Falar sobre o jardim, incentiva-lo e promove-lo através de
um plano anual de cuidados e das seguintes iniciativas:
I-
Apresentar e
dar visibilidade aos brotos, mudas e sementes de produção, oriundas de matrizes
de memórias sociopolíticas, artísticas e culturais deste Jardim.
II- Estas mudas, sementes e flores, deverão ser disseminadas e
assim, de fato, compor o cenário deste Jardim.
III- As flores nativas deverão compor outros grandes jardins, de
iniciativa privada, que por ventura, venham a ser cuidados pelo jardineiro.
IV- As questões referentes ao jardim das flores nativas deverão
ser cuidadas com carinho pelo “Conselho Muniquintal
de Políticas do Florescer”.
V- Estimular a democratização e descentralização da produção,
disseminação, e polinização, de forma clara e leve, das flores nativas.
VI- Garantir a perpetuação das flores nativas, independente dos
jardineiros e do dono do jardim.
VII- Garantir e defender questões referentes às propostas, recursos
e insumos do jardim.
VIII- Opinar em favor das flores nativas nas esferas da execução e legislação,
implicando ações efetivas ao jardim.
IX- Examinar e emitir parecer aos insumos de jardinagem, de forma
transparente.
Art.
3º -. O “Conselho Muniquintal de Políticas do Florecer” será composto por 09 membros,
sendo estes “flores de plástico” e jardineiros sintéticos.
Saudosas lembranças da fogueira apagada, do pequi já roído, do
forró esquecido, de uma planta que nasceu no lugar errado, pois dela só me
resta a lembrança do que lá existia.
O jardim, como era chamado, O reisado, hoje quase calado, e
do que mais vem sendo carcomido pela maresia do descaso pelo florescer da
verdadeira Arte Nativa, à sombra de uma palmeira, que não vem dando sombra nem
encosto...
Florescer dói!
Texto publicado na coluna "Cultura" do jornal O Brejo.
Autoria do Coletivo Caipora.
Pós-escrito: O Coletivo Caipora continuará refletindo sobre
este jardim em suas redes sociais.
(Instagram: @coletivocaipora5 e Facebook: https://www.facebook.com/ColetivoCaipora/ )
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