Casos de Covid-19 em Uruçuca/BA é alerta para o interior, como Macaúbas


Casos de Covid-19 em Uruçuca/BA é alerta para o interior, como Macaúbas
Por Willian Guedes

O município de Uruçuca - Bahia com pouco mais de 20 mil habitantes, a 36 km de Ilhéus e a 40 km de Itabuna, registrou oficialmente, até 08 de junho de 2020, 150 casos confirmados e 13 óbitos por covid-19.

O espaço geográfico em Uruçuca condiciona mortes e o transforma na maior incidência por Covid-19, na Bahia. De cada dez moradores diagnosticados com coronavírus, um morreu em Uruçuca. Índice superior à cidade de Manaus, no Amazonas. A taxa de letalidade da cidade baiana é de 8,7%, quase três vezes maior que a do estado da Bahia (3,3%) e maior que a do Brasil (5.3%). Ou seja, de cada dez moradores que são diagnosticados com o coronavírus, um morre em Uruçuca.

A cidade de Uruçuca é pequena e carece de estrutura na área de saúde. Algo similar a milhares de cidades pelo Brasil afora. É preciso que os moradores e o poder público de cidades, como Macaúbas, estejam atentos ao que acontece no Brasil, principalmente em municípios como Uruçuca, para assim agir e evitar o pior diante de um vírus que não tem vacina nem remédio eficaz.

Neste breve texto tentarei apontar as causas para o desastre em Uruçuca. O município não possui hospital e não dispõem de leitos hospitalares. Todavia, há UTI's a menos de 50 km, nas cidades de Ilhéus e Itabuna. Em Uruçuca, existe apenas o pronto-socorro municipal, o "Promater", onde funciona, também, a maternidade. Somente no mês de maio foi criado, pela prefeitura, um centro de atendimento municipal à Covid-19. Medidas como a criação dessa estrutura pode evitar o crescimento de mortes na proporção do que estava ocorrendo.

Ilhéus é uma das cidades que oferecem os atendimentos de saúde mais complexos aos moradores da região. Alguns profissionais do pronto-socorro de Uruçuca também trabalham no Hospital Regional Costa do Cacau, em Ilhéus, referência para o atendimento do Coronavírus, na Bahia, onde ocorreu um surto de contaminação.

O pronto-socorro de Uruçuca, que antes da pandemia já fazia os atendimentos de rotina, passou a acolher os infectados pelo coronavírus. Mas tudo isso o transformou em um "vetor" de transmissão do coronavírus. Muitos moradores de Uruçuca relataram que, ao buscarem atendimento de rotina, saíram contaminados pelo Covid-19.

Das nove mortes em Uruçuca, estima-se que quatro foram pacientes da cidade que foram atendidos no Hospital Costa do Cacau, em Ilhéus, para tratamentos diversos, como AVC e infecção urinária, mas acabaram contraindo o Coronavírus. A ausência de uma estrutura hospitalar na cidade foi um condicionante para as outras três mortes. Os pacientes morreram no pronto-socorro local, aguardando o sistema de regulação encontrar uma vaga em outra cidade. O sistema de regulação não funcionou nesses casos, devido a motivos que veremos a seguir:

A falta de uma estrutura adequada para atendimento, em Uruçuca, e a situação do Hospital Costa do Cacau, em Ilhéus, criaram uma "psicoesfera do medo" na população de Uruçuca, conforme relatos de moradores publicados em jornais. Os moradores passaram a evitar o pronto-socorro e temiam sua transferência para Ilhéus. O medo fez diversos moradores esconderem os sintomas e não buscarem atendimento. O resultado foi que, dos nove óbitos de Uruçuca, oito deram entrada no serviço de saúde em estado muito grave, ou seja, doentes que não estavam sendo acompanhados pelo município. 

O fato de eles terem procurado atendimento só no estágio grave da doença, pode ter sido determinante para as mortes.

Isto é, a precariedade envolvendo a falta de estrutura de atendimento (o que chamo aqui de tecnoesfera), e as ações equivocadas (psicoesfera do medo) condicionaram as mortes por coronavírus, em Uruçuca. O medo que foi criado está relacionado ao comportamento da população, diante da precariedade envolvendo a estrutura hospitalar e a disseminação de informações desencontradas. 

Assim, a "psicoesfera" e a "tecnoesfera", juntas, como conteúdo do espaço que vivemos, possibilitam o entendimento da nossa realidade e desempenharam um papel de condicionante na alta letalidade do coronavírus em Uruçuca.

Entender relações, como essas, é importante para enfrentar o grande desafio de combater a pandemia do coronavírus.

A capacidade estrutural da saúde da cidade de Uruçuca possui muitas semelhanças com a cidade de Macaúbas. Ambas são pequenas, interioranas, com pouca estrutura e pouco suporte em saúde. Entretanto, quando observamos mais atentamente, Macaúbas possui mais um agravante! Não bastasse não possuir leitos de UTI, os poucos disponíveis para serviço do município se encontram muito mais distantes que os utilizados por Uruçuca. Tomando por referência os centros de saúde do estado, Macaúbas só encontraria um serviço equiparado ao fornecido no eixo Ilhéus-Itabuna, na cidade de Vitória da Conquista, a mais de 300 km de distância do nosso município.

Portanto, é essencial que Macaúbas vá na contramão da realidade atual da cidade de Uruçuca. Do contrário, o desastre poderá ser muito maior, em nosso pedaço de chapada

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