Dia a dia do SUS: A informação salva vidas!

Dia a dia do SUS: A informação salva vidas!

Por Mateus Christian S. Carvalho*


        Era tarde de uma quinta-feira, por volta das 13h40, quando João abriu a garagem, pegou sua moto e saiu para o trabalho. Ao dobrar a curva que dava acesso a avenida principal da cidade, se deparou com um carro que entrava na contramão. Na colisão, o jovem de 21 anos foi arremessado do veículo e caiu alguns metros à frente. Desorientado, levantou-se, balbuciou algumas palavras e, então, desmaiou. Os que passavam pela rua no momento do acidente acionaram o serviço do SAMU, mas a única ambulância disponível estava em uso em outro atendimento e, portanto, o socorro tardou a chegar. 

         Paula, 40 anos, reside em Macaúbas e não realizou viagens recentes. Manteve-se em isolamento domiciliar, se mostrando muito preocupada com a pandemia de coronavírus em curso. Na manhã dessa mesma quinta-feira abriu um quadro de falta de ar com tosse, que se agravava quando se sentia mais ansiosa. Preocupada, ligou para uma amiga, enfermeira da rede pública da cidade, que a orientou buscar atendimento na unidade básica de saúde (UBS) do seu bairro. Paula, porém, disse que “não confiava muito em postinho” e que preferia ir à Unidade de Pronto atendimento (UPA). Mesmo com toda a explicação da enfermeira sobre como os protocolos de atendimento funcionavam e que ela deveria buscar a UBS em vez de ir na UPA, Paula não mudou de ideia. Por volta das 13h00, a falta de ar piorou muito e Paula decidiu ligar, às 13h45, para o SAMU, que prontamente se mobilizou para atendê-la, chegando em sua casa às 14h00, mesmo momento que João sofrera o acidente e, portanto, o SAMU não pode socorrê-lo prontamenteo

          Depois do almoço, Pedro, filho de Seu José, queixou-se de dores na barriga. Seu pai não deu muita importância, mas, no começo da tarde, Pedro começou a chorar e dizer que queria vomitar. Preocupado, Seu José decidiu levar o filho ao médico, mas não sabia que serviço procurar. Então, às 13h50 decidiu levar seu filho até a UPA. No caminho, passou ao lado de um acidente de moto, mas, por estar apressado, não prestou muita atenção no ocorrido. Chegando à UPA, passou por uma triagem, a enfermeira o acalmou e disse que não era nada muito grave. Recebeu um cartão verde e foi informado que o atendimento demoraria alguns instantes. Por não haver ninguém na sala de espera, seu José ficou nervoso e indagou o motivo da demora. Mesmo com uma longa explicação sobre protocolos e tempo de espera, seu José manteve-se irredutível e exigiu consulta imediata e então, às 14h20, Pedro e o pai entraram para  consultório.
 
         O SAMU levou Paula à UPA e em seguida foi socorrer João, chegando ao local às 14h30, quase 40 minutos após o acidente. Paula não foi atendida, pois o médico estava atendendo seu José e o filho e, então, ela foi levada para um leito isolado. O garoto Pedro tinha apenas uma diarreia comum, foi orientado uso de soro para reidratação. Paula foi atendida, seu teste rápido deu negativo para coronavírus e então foi medicada para acalmar-se. Já João, que sofreu o acidente e precisava de atendimento imediato, chegou na UPA com atrasos e não encontrou leito nem médico disponíveis. Nessa espera, João não resistiu e faleceu às 15h00 daquela quinta-feira.

       Esse breve relato fictício ilustra bem a importância de conhecermos os serviços de saúde disponíveis no SUS, suas funções e seus protocolos. Se Paula tivesse usado a UBS e se seu José conhecesse a rede e aguardasse o momento para ser atendido, tanto o serviço do SAMU quanto os leitos de emergências estariam disponíveis para atender prontamente João e assim o óbito seria evitado. 

       A população de Macaúbas utiliza majoritariamente a rede de saúde do SUS, que possui diversos serviços disponíveis, inclusive os citados no relato: SAMU, UBS e UPA. Portanto, todos os usuários precisam conhecer as funcionalidades desses programas. Informação salva vidas! Comece conhecendo seu agente de saúde e a estratégia de saúde da família que você pertence. Lá você será bem informado. Fique ligado, também, na coluna de saúde pública d'O Brejo. Aqui usamos o espaço para criticar, informar e, sobretudo, para defender o SUS!



*Mateus Christian S. Carvalho: Acadêmico de Medicina - UESC, membro do Centro Acadêmico de Medicina XIII de Julho, foi monitor da Liga do Trauma e Emergência da UESC, é membro do núcleo de estudos em oncohematologia pediátrica (NEOOP) e escreve para a coluna de saúde pública do Jornal O Brejo. 

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