Apologia de Macaúbas: entre a fundação e a emancipação.

Apologia de Macaúbas: entre a fundação e a emancipação.

Sócrates Menezes*
 
              A jovem Macaúbas, diante dos festejos aos seus 188 anos, comemora sua fundação nesse 06 de julho. Elevada à qualidade de vila ainda nos tempos imperiais de 1832, acumula no desenrolar do seu tempo uma história carregada sinuosidades. Terra de povos indígenas dizimados, de povos negros escravizados e esquecidos, de coronéis sem muita importância e de outros valentes desafiadores do Império, Macaúbas se consagra “Terra Amiga”.

             Cravada no semiárido nordestino, nossa cidade ostenta um vale gigante por onde um pequeno rio conduz, também sinuosamente, formações geomorfológicas de transição. Entre cerrados e caatinga, sua geografia esconde uma riqueza humana ímpar que faz dela muito mais que seu território.

             Seu gentílico cristão, reverbera Macaúbas aos ouros provincianos de comunidade harmônica. Saudoso da história oficial escrita por atos de gente quase importante, como heróis sem feitos reconhecidos, brancos e ricos com alguma vontade de ser europeu, reconstrói um projeto pseudocivilizatório. Macaúbas é também mais do que a história contada por seus templos e bustos.

           Contemplada por uma cidade que se encaixa no complicado perfil “entresserras”, se faz bonita, mas não tanto quanto a diversidade de seu campo. Sob a tutela de seus camponeses, gente da roça, que perfazem quase dois terços de seu povo, ancora no seu espaço de vivência a originalidade nordestina negada pelo ethos urbano. Macaúbas é também maior que sua arquitetura, sua aparência citadina. Sendo ela mais que território, mais do que suas representações de poder, mais do que suas formas construídas, o que seria Macaúbas desde sua fundação? Um complicado arranjo contraditório e, novamente, sinuoso de histórias esquecidas e mal contadas, de conflitos irresolutos e de um política ainda regida por coronéis; uns sem muita importância, outros mais valentes, mas todos homens ricos, brancos e quase-europeus. Colonizadores, diríamos...

                 Não seria essa uma “pré-história” de Macaúbas desde sua fundação? A emancipação dessa terra não pode existir nos documentos de barbárie “pré-históricos”: nos atos, na legislação e nos decretos. Há uma história real que precisa ser contada. A história de permanência e resistência dos camponeses, de luta dos povos negros, de genocídio indígena e de sobrevivência dos trabalhadores. Apenas quando assim prestarmos contas com a história, no sentido que quebrar as amarras do seu povo, poderemos em algum futuro vislumbrar qualquer perspectiva de emancipação.

A emancipação de Macaúbas não é uma história, é um projeto!

Socrates Menezes é professor Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutor pela Universidade de São Paulo (USP/2015) e mestre em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (UFS/2007). Trabalha no Departamento de Geografia da UESB (regime de dedicação exclusiva). É membro do Grupo de Pesquisa Estado, Capital, Trabalho e Políticas de Re-Ordenamentos territoriais (GEPECT/UFS); integra o Grupo de Estudos sobre o Capital (GECA/USP); compõe o Laboratório de Estudos Marxistas (LEMARX/UESB); e coordena o Grupo de Estudos Crise Crítica (UESB). Tem experiência na área de Teoria Crítica e Teoria da Geografia. 

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